terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Identificação botânica de espécies arbóreas manejadas no Estado do Acre: a busca por um modelo rigoroso e confiável.

Heloísa Polary¹ e Marcos Silveira²


¹ Bolsista PIBIC/CNPq; ² Prof. Dr. UFAC.


Considerando o aumento do desmatamento da Amazônia brasileira nas últimas décadas, o Governo Federal vem incentivando a criação de planos de manejo florestal (PMF) comunitário de pequena escala, como forma de consolidar o desenvolvimento sócio-ambiental, refletindo na conservação da biodiversidade. No entanto, essa atividade requer referências que a caracterizem como sustentável, como por exemplo, a confiabilidade da identificação botânica. Algumas empresas responsáveis por esses PMF utilizam apenas listas de nomes populares (NP), os quais são associados a nomes científicos (NC) sem que as espécies tenham sido identificadas por especialistas ou confrontadas com amostras de uma coleção científica. Este estudo tem por objetivo estabelecer protocolos para identificação precisa da identidade e do estado de conservação das espécies madeireiras atualmente comercializadas.
Este estudo foi realizado na Fazenda São Jorge I (FSJ), da empresa Laminados Triunfo LTDA. Para cada espécie do inventário da empresa, foram coletadas cinco amostras botânicas com auxílio de um técnico parataxonomista, anotadas se caracterísiticas dendrológicas e morfológicas. Das amostras foram retiradas cinco folhas, sendo as mesmas armazenadas em saco plástico com sílica gel, para análise das caracteristícas foliares. As folhas foram diafanizadas com hipoclorito de sódio (2,5%) para extração da pigmentação e, posteriormente, coradas em fucsina ácida (1%). A análise da arquitetura foliar foi realizada através de foto-documentação, sendo assim, separadas e/ou agrupadas por espécies próximas ou não filogeneticamente.
Segundo o inventário florestal realizado na FSJ, 178 espécies foram registradas, porém três não existem, 28 não apresentavam gênero e família, 24 apresentavam família, mas não gênero ou espécie e 24 não ocorrem no estado do Acre. Do total 79 apresentaram erros quanto à identidade botânica. As análises da diafanização de 99 espécies que aparentemente não apresentaram erros revelaram problemas sérios quanto à associação entre NP e NC. Por exemplo, uma das árvores mais comuns no inventário, denominada paineira (provavelmente Ceiba Iupuna), considerada inútil pela empresa, na verdade tratava-se da samaúma (Ceiba pentandra), uma espécie muito conhecida e uma das mais valiosas no mercado. Nessa situação percebem-se dois problemas, um relacionado à identidade botânica e outro para empresa, uma vez que o inventário foi terceirizado por um grupo que não tem conhecimento da realidade botânica local.
O inventário utilizado pela empresa apresenta 44% de erros graves. A técnica de associar NP a NC, proveniente do plano de manejo utilizada pela empresa caracteriza a atividade como não sustentável desse ponto de vista. A diafanização é uma alternativa viável para identificar os erros contidos nos planos de manejo. Sugerimos a utilização desta técnica como uma forma de minimizar os problemas nesse aspecto.

Figura 1- Aspectos da arquitetura foliar de Aspidosperma parvifolium. (Figura por F. Obermuller)


Agradecimentos: A JRS Biodiversity, a WWF-Brasi e ao CNPq pelo financiamento do projeto. Ao LBA pelo apoio logistico e ao parataxonomista Edilson C. de Oliveira e ao Grupo LABEV.

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